Introspecções e seus desafios

Mesmo que as pessoas não nos reconheça, sigamos fazendo o nosso melhor, pois ninguém o fará igual.

Textos

Releitura do texto "O encontro 2022"
O Encontro
                                                                                                                                                                                                                                              Jailton Silva
“Ser útil à sociedade e buscar o bem comum são necessidades primárias de uma alma pura e virtuosa”.Ndjizas Sabino

Há uma verdadeira confusão quando buscamos entender os seres humanos, principalmente quando os comparamos. Nos deparamos com ideias como a da filosofia de Sócrates, que dizia dele mesmo, “só sei que nada sei”, deixando claro que não precisamos pregar verdades. A segunda está relacionada à polifonia, na qual é forjado o nosso eu. A terceira está ligada ao pensar freudiano, vinculada ao saber ouvir e observar, onde, Freud, apud Dra. Waleska Fochesatto diz: “... Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir fica convencido de que os mortais não conseguem guardar nenhum segredo (IBIDEM, 78 Caso Dora)”.
As três estão imbricadas e levam ao poder que nos é concedido quando estamos juntos, mas ressalta também à dependência de uma vida social. Formados na polifonia, somos desafiados a entender que de tudo sabemos um pouco, e diante da sociedade, nada sabemos, além de que somos sociáveis, por isso, nos tornamos seres deprimidos se não comunicarmos igualmente.
Precisamos sair da ditadura citada na música de Chico Buarque e Gilberto Gil, cálice (cale-se), mas nos inserirmos, ou, talvez, aceitarmos a sugestão do ouvir e a partir dessa ação, encontrar a forma adequada para a transmissão de conteúdo e a viabilização da educação, quiçá, sair da pretensão de que libertamos, de que ensinamos e até mesmo da ideia de que nada sabemos.
Ninguém precisa que digam o que fazer, precisamos de educadores que ajudem na leitura das realidades e, depois disso, então, o educando estará apto a intervir ou não na situação que por ele foi analisada. Chega de estupros filosóficos e escravização em nome da liberdade.
As discussões estão sempre voltadas ao nosso próprio umbigo. Quando as ideias não fazem parte do rol daquelas ideologicamente nossas, elas são alienantes, quando ao contrário, são libertadoras, inteligentes, visionárias. E assim, discutimos questões relevantes e intrinsecamente humanas, porém, prevalecerão os nossos próprios parâmetros. O debate só é bom se favorecer o ego de cada um. Falamos de ética e moral, mas sempre a alheia, porque a individual é sempre inquestionável.
As discussões são empreendidas de forma superficial e tendenciosa, promovendo o aumento de uma massa de reclamões, egoístas e acima de tudo, sedentos de poder, fatos constatados até nos menores grupos. Vemos questões interligadas, sendo discutidas de forma fragmentada.
Enquanto não tomarmos consciência da responsabilidade de cada um, sobre os males que afetam a humanidade, ficaremos como cão, correndo atrás do próprio rabo. A história é sempre a mesma, o que há são releituras. Sempre houve eloquentes usurpadores, inimigos salvadores da pátria, além de uma massa vendida e acadêmicos a serviço do poder. Todos querendo discutir o outro, nunca a si!
Para um pensante, toda questão que envolve o ser, deveria ser bem-vinda, pois não há enunciado que parta do além, sempre somos nós, os humanos, os protagonistas ou antagonistas da situação, quando não, somos porta vozes.
Então, vamos sair da mesmice e de nossas cavernas, sugeridas por Platão, para ouvirmos e vermos a proposta trazida pela vivência carente ou abastada dos pares?
“Esqueçamo-nos do nosso umbigo, ele só é algo em comunidade. O pensar é sempre um desafio e o homem, um ser social!” Jailton Silva.
“Onde está seu irmão?” – Essa pergunta foi feita pela primeira vez por Deus, segundo a bíblia, a Caim, filho de Adão e Eva, sobre seu irmão Abel, o qual havia sido morto pelo próprio Caim. Gênesis 4:9. Criou-se um “eco”, o qual poucos ouvem, menos ainda escutam, mas seu som é eternizado, pois as circunstâncias que o provocaram são também proporcionalmente reproduzidas, hora após hora, sincronicamente por toda a Terra.
Essa voz, ou chamado, evolui e propõe novas leituras da frase original, mas o hominídeo continua sem entender que tudo que ele faz, o faz para o outro e pelo outro. Até mesmo a dita liberdade só se realiza na presença de outrem, pois, a condição sociável o torna incapaz de viver isoladamente.
Sua dependência começa a ser notada, pelo fato de, embora com características físicas da raça humana, só o convívio com os seus iguais, o desenvolve ou faz brotar o que chamamos de humanidade.
Temos histórias de humanos criados por lobos que se comportavam como seus criadores. Como no caso veiculado pela mídia sobre Amala e Kamala, irmãs que conviveram com lobos por muito tempo, podendo dizer que foram criadas por eles, encontradas em 1920, e que não se adaptaram ao convívio humano.
A história das duas jovens é contestada e há quem diga que é uma farsa, mas há outra que fala de um menino de aproximadamente seis anos, que andava de quatro e fora criado até aquela idade pelos lobos. Deram-lhe o nome de Sanichar, o qual teve muitas dificuldades de adaptação entre os de sua espécie, os humanos.
“O menino foi encaminhado a um abrigo para menores, onde recebeu o nome "Sanichar", que significa "sábado" em urdu (já que esse foi o suposto dia em que seu resgate aconteceu). No entanto, “domesticá-lo” não foi uma tarefa muito fácil. Sanichar não se comportava muito bem com a nova condição de vida e lutava muito. [...] Mesmo depois de 10 longos anos vivendo na companhia de outros humanos, Dina Sanichar continuava lutando contra as imposições que o abrigo lhe trazia. Seu desenvolvimento foi bastante anormal, [...]  Conheça a história real do menino que viveu com lobos - meionorte.com acesso 10/11/2021
Sanichar, viveu até os 29 anos, na Índia, e morreu com tuberculose, sem se ajustar completamente na sociedade humana.
O primata, dito humano, nascido, evoluído ou criado, é dotado do que chamamos de inteligência, o que o difere dos demais animais, porém, o que seria dele com seu intelecto, sem as oportunidades proporcionadas pela interação com outros de sua raça.
O isolamento parece não ser algo que combina com as características humanas, mas isso não o faz amar outro humano, mesmo não sendo criado por lobos. Daí toda a história e mitos que buscam chamar atenção dessa criatura para o bom convívio com tudo e todos ao seu redor.
Aos que acreditam em um DEUS, que criou todas as coisas e as entregou ao homem e a mulher, foram dados mandamentos e situações que buscam despertar esses seres para o entendimento com seus iguais, como é a questão dos dez mandamentos, além da pergunta feita a Caim, personagem bíblico já citado anteriormente neste texto.
Os mandamentos do povo Hebreu, recebido pelo profeta Moisés, enquanto perambulava pelo deserto, eram dez, e já em seus 1º e 2º itens determina o seguinte, conforme citado por Jesus Cristo no próprio livro: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo (Mt 22,34-40) Amarás o Senhor teu Deus. De todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!’. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Mateus 22:34-40 - ACF - Almeida Corrigida Fiel - Bíblia Online (bibliaonline.com.br)
A grande maioria dos humanos, aceita haver sido criado por DEUS, e ainda proclamam que ele, “Deus”, cuida deles, todavia, as palavras ditas pelo apresentado como filho de Deus, Jesus Cristo, aparentemente, não faz efeito em suas vidas.
O próprio Jesus Cristo criou parábolas para contar e sensibilizar o povo daquela época, uma delas a do bom samaritano. Pelo relato do discípulo Lucas, 10: 25-37, no Novo Testamento, pode-se resumir como um chamado para a atenção ao outro, independentemente da cor, raça ou origem, todavia, o ponto alto da história, está no fato de um homem com origem fora daquelas ditas, próximas de Deus, haver encontrado uma pessoa caída e machucada, após ter sofrido um assalto e mesmo não sendo eles, correligionários, aquele moço, chamado no conto de samaritano, cuidou da vítima, a levou ao médico e deixou tudo pago e simplesmente desapareceu.
Não entraremos aqui na questão ética, coisa que faltou aos outros que já haviam passado por lá e apertaram os passos, conforme a escritura, mesmo sendo eles filhos do povo escolhido de Deus e correligionários do vitimado.
Jesus, dito filho de Deus, o qual os estudiosos já esperavam naqueles tempos, não veio como Deus, veio como homem e pregou para que o homem cuidasse do homem, e, diga-se de passagem, era bem incisivo nesta questão, a ponto de vincular o entendimento entre os crentes e a conquista da salvação, como relata o discípulo chamado Matheus, em um episódio denominado como “Sermão da montanha”:
“Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
Então lhes responderá, dizendo: em verdade vos digo que, quando deixaste de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que não o fizeste”. Mateus 25:44,45
Na vida o humano sofre para apresentar-se melhor ao outro, estuda para dar aula, estuda para melhor colocar-se em um grupo, veste-se para ser elogiado, e não fala só porque sabe falar, a usa também para se impor, para dominar. Se, em um grupo, ele amargar o esquecimento para que outrem se destaque, certamente em lugar diferente, ele exercerá sua superioridade.
Ao autor Thomas Hobbes, é atribuída a frase, “O homem é lobo do homem”, frase que quer indicar como o homem depende de leis para não se digladiar, e isso, pode dar sentido ao que no início do texto chamamos de “eco”, nada a ver com ecologia, mas de ressonância, de voz. Uma voz que pede aos seres humanos que busquem a paz entre sua própria espécie, que reconheça no outro a semelhança e interdependência que permeia sua raça.
No novo testamento, no livro de Atos dos Apóstolos, o apostolo Pedro, em um lampejo, vislumbra um grande lençol, o qual trazia toda espécie de animais, e ele, naquele momento, sentia fome, então, uma voz, o autorizava a matar e comer, sua resposta foi, nunca comi nada de impuro, recebeu como réplica o seguinte: "não chame de impuro aquilo que Deus santificou, logo em seguida, tudo desapareceu e alguém o chama para ir orar por uma família que não era judia".
Naquela época, chamavam de gentios, todos os povos alheios a nação judia, e o apostolo, ao chegar a casa daqueles, para sua surpresa, enquanto orava por eles, caíram sobre esses, diz a obra, como que línguas de fogo, e o apostolo entendeu naquele instante que aquelas pessoas estavam sendo batizadas pelo espírito santo, mas isso fugia às regras, visto que, esse tipo de batismo só iria acontecer após o batismo nas águas. Atos 10: 12-15
Essa, não é mais uma passagem onde Deus coloca os homens em pé de igualdade?
O que me faz diferente de outra pessoa pode ser a minha fisiologia, a qual pode ser influenciada pela geografia do local onde nasci, ou vivo por muito tempo, ou parecermos diferentes por que somos de nações diversas. A cultura, a profissão, o credo, a época que nascemos, também influencia. Mas até aqui somos iguais em nossas diferenças.
A desigualdade surge a partir da estigmatização por um sofrimento temporário ou imposto. Ela é fabricada para a manutenção do poder. A sociedade precisa de subalternos, então, historicamente, cria categorias predestinadas a servirem, com poucas oportunidades de superação.
Todos produzem lixos, secreções (excreções), mas nem todos precisam lidar com elas, já há aqueles que foram tolhidos de oportunidades para não faltar a mão de obra. Mas, o que há de mau em ocupar-se com as demandas próprias do seu planeta, por que a inversão de valores? Entretanto, qual o problema em pagar alguém para limpar minhas sujeiras, nenhum, concorda? Desde que seja, opção, ou vantajoso, para quem o faz.
Por que alguns fazem o que querem e ganham monstruosamente bem, enquanto outros nascem fadados à poeira, e seus dons e sonhos são sempre relevados à utopia?
Nos encontramos na era das oportunidades, porém, sabemos que para alguns elas são limitadas, sabemos de antemão até onde vai, enquanto para outros o céu é o limite e com possibilidades de expansão.
Para sabermos como não há um melhor que outro, pensemos como fica um homem rico que perdeu sua fortuna, um negro que seja forçado a viver em local de pouco sol, ou pessoa de pele clara em local de sol escaldante. Qual a diferença entre duas crianças, uma negra e a outra branca, que sejam criadas juntas, comendo coisas semelhantes e com tratamento igualitário? Será que alguma delas se transformará em um jumento, enquanto a outra será um deus?
Somos diferentes, mas as desigualdades são fabricadas. Dizem que todos podem o que quiserem, entretanto, selecionam quem pode chegar, enganando a todos com a pseudo ideia de superioridade e meritocracia. Isso também é bíblico.
No livro de Mateus, há um debate entre Jesus Cristo e os doutores da época, os quais alimentavam desigualdades, criando obrigações, às quais, eles próprios não queriam cumprir.  O sistema, na atualidade, mantém com a mesma força e provocam marcas que se refletem em muitas gerações.
“[...], Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; Mateus 23:4
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.” Mateus 23:23
Somos essencial e potencialmente iguais, o, além disso, são resultados de ideologias montadas para dominar, e isso, não pode ser identificado como uma face do capitalismo, pois esse sistema é alimentado na produção e consumo, o restante é promovido pelo desrespeito entre humanos.
É nosso o dever de cuidar uns dos outros, entendendo que quando cuidamos daqueles, também é por interesse próprio, pois, o que somos sem nossos pares? Como seria do mundo se todos alimentassem a ideia de que o que há na Terra é suficiente para todos e ninguém é dono de nada, mas, administradores?
Por que falarmos de igualdades e oportunidades para todos, enquanto criamos escadas em locais onde deficientes devem transitar? Por que o investimento no ensino superior, se o ensino obrigatório é o básico? Apresentar aos jovens infinidades de direitos e não proporcionar situações favoráveis para seus cuidadores, como casa própria, remuneração e carga horária em seus trabalhos, condizente com suas responsabilidades?
O que estamos fazendo com o outro, e quem é o outro? Onde está o seu irmão?
Jailton Ofamilajo
Enviado por Jailton Ofamilajo em 19/10/2024


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